Entender as necessidades dos seus colaboradores e buscar as melhores soluções para atingi-las pode ser o fator determinante que irá ditar, ou não, o sucesso da sua empresa.
Growers, no artigo de hoje vamos abordar um relatório feito pela Mercer em 2022, Rethinking what we need from work, em português, “repensando o que nós precisamos do trabalho”, que tem o objetivo de analisar quais são as principais necessidades dos trabalhadores, porque elas existem e, o principal, como as organizações podem alcançá-las. Dessa forma, é possível entender o que se passa na mente dos empregados tornando mais fácil a tarefa de manter as equipes e funcionários engajados, motivados e que pratiquem de forma ativa a cultura do negócio.
O mundo mudou muito, de 2 anos para cá, no momento em que escrevo o texto – dezembro de 2022 -, passamos por uma série de mudanças em diferentes aspectos. A partir disso, podemos observar que os impactos foram causados em diferentes frentes, sejam elas: sociais, econômicas, culturais ou políticas. De modo geral, todas as áreas que envolvem questões relacionadas às pessoas enquanto sociedade foram afetadas em algum nível perante ao ano de 2020, nada saiu completamente ileso neste ano que marcou, marca e continuará marcando para sempre a história da humanidade.
Dito isso, ao aproximar esse tema do mundo dos negócios, mais especificamente à mão de obra dentro das instituições – que é o nosso foco –, podemos observar que as mudanças foram extremamente expressivas nestes setores. Funcionários, colaboradores e sócios, sem exceção, todos foram impactados de alguma forma, por menor que seja, nos últimos anos. Contudo, falaremos dos funcionários e colaboradores que estão na base da estrutura organizacional e que também são os responsáveis por fazer o negócio andar.
O que foi esse relatório?
Agora, falando mais sobre o relatório desenvolvido pela Mercer, trata-se de um comparativo feito entre os dados coletados no ano de 2021 frente ao ano de 2022 – este relatório foi baseado em um estudo feito esse ano, Mercer’s 2022 Inside Employees’ Minds study, em português, “dentro da mente dos funcionários”, que analisa quais foram as principais mudanças, em termos de necessidades, dos trabalhadores ativos no mercado hoje. Ou seja, o que se tornou prioridade para eles, ou o que deixou de ser, depois de um ano?

Esse estudo contou com a participação de 4049 empregados full-time que trabalham nos Estados Unidos e que, inclusive, trabalham para empresas que possuem acima de 250 colaboradores. A coleta desses dados aconteceu entre 26 de agosto e 9 de setembro de 2022. Agora que fizemos um apanhado geral, bora pro texto!
As novas estratégias foram boas?
O ano de 2021 foi um ano inédito na vida de muitas pessoas, até mesmo para aqueles que já são mais experientes e que já passaram por uma série de adversidades ao longo da vida. Entretanto, o que pudemos observar foram diversas empresas, executivos, diretores e gestores modificando suas estratégias e seus modelos estruturais/organizacionais para lidar com os desafios que foram impostos devido às restrições e lockdowns globais. Para isso, foi preciso repensar o modelo de negócio e atender a uma demanda interna que, até então, não existia da forma como existe hoje. Por exemplo, empresas flexibilizaram idas aos escritórios, reuniões online se tornaram regra e não mais exceção e, por fim, o trabalho freelancer ganhou espaço perante colaboradores full-time.

Ainda neste mesmo ano, essas mudanças que foram feitas pela equipe de gestão das empresas foi capaz de impactar, de forma positiva, a vida dos empregados. Essa atitude fez com que os funcionários aumentassem o sentimento de pertencimento e de importância dentro do negócio. Essa ação provocou um efeito ainda mais positivo, a partir de então, os funcionários acabaram apresentando maior nível de engajamento e comprometimento para com o seu trabalho e os resultados puderam ser vistos pelos gestores. O suporte para os funcionários foi um trabalho intensivo e este foi o responsável por manter os empregados em seus postos de trabalho.
Maior nível de comunicação entre gestores e funcionários, foco em questões de segurança e saúde, permitir maior flexibilidade e lidar com diferentes situações com empatia estão entre os principais suportes oferecidos pelas empresas.
Um declínio preocupante:
Com a chegada do ano de 2022, outras novas mudanças aconteceram e até mesmo a flexibilização, por exemplo, que antes era obrigatória, agora passou para um tom mais facultativo, sendo determinada caso a caso. O resultado disso somado a fatores externos como estresse e medo fizeram com que muitos empregados e colaboradores se sentissem significativamente menos auxiliados em comparação ao ano anterior.
Em consequência disso, a conclusão obtida foi óbvia, o estudo desenvolvido pela Mercer indicou que o ano de 2022 apresentou um declínio significativo em relação a satisfação dos empregados de maneira geral, mas, mais especificamente, relacionado às áreas de salários, benefícios e planos de carreira. Ou seja, aqueles colaboradores que puderem experimentar um ano de 2021 mais acolhedor e humanizado, não tiveram a mesma sensação em relação ao ano seguinte, até mesmo porque, os efeitos econômicos gerados através da expansão global de crédito estão sendo experimentados apenas agora e é esperado que a insatisfação salarial aconteça, visto que a inflação disparou como nunca!
Esses efeitos fizeram com que o comprometimento caísse cerca de 8 pontos em relação ao ano de 2021.
Agora, quero compartilhar com vocês alguns dados coletados pelo estudo na visão dos empregados em relação a sua empresa e seu emprego. A ideia aqui é agregar informações sobre como os funcionários estão se sentindo e lidando com essas novas mudanças na gestão e também na situação como um todo, medindo o nível de concordância com cada situação.

Fonte: Rethinking what we need from work – Mercer (2022)
Essa junção de fatores fez com que o trabalhador americano entrasse em uma espécie de paradoxo existencial, onde eles não mais aceitam condições em que mais se vive para trabalhar, do que o oposto é o ideal, que é trabalhar para viver. Inclusive, os mais prejudicados nesse caso são aqueles empregados que são parte da linha de frente e que recebem salários abaixo da média salarial, ou seja, que estão em situação de sobrevivência financeira.
O mundo da gestão precisa de um plot twist
Já os gestores agora vivem outro paradoxo, a questão principal é que eles já não podem mais retornar ao ponto estabelecido pré-pandemia. Agora, os conceitos são outros e as necessidades já não são as mesmas que existiam no passado. Ou seja, reverter as condições atuais aos patamares anteriores já não é bem visto pelo mercado. Portanto, para isso, precisarão agir conforme os novos modelos e precisarão suprir as demandas dos empregados, que agora buscam um contrato de trabalho capaz de agregar um diferente tipo de experiência, onde saúde emocional e física possam caminhar juntos com seu trabalho.
Inclusive, os tipos de contratos empregatícios foram evoluindo com o passar do tempo, ao passo que as necessidades dos colaboradores foram mudando de acordo com as condições em que estavam submetidos. Até o século 20, por exemplo, os contratos fornecidos pelas empresas eram conhecidos como contratos de lealdade, onde suas características principais buscavam suprir apenas o que era considerado necessidade básica, como: pagamento, benefícios, segurança e estabilidade. Neste caso, o compromisso do empregado estava ligado diretamente a essas condições fornecidas pelo contratante. Quando avançamos, passamos para os contratos de compromisso nos quais as características principais estavam relacionadas às necessidades psicológicas dos funcionários que esperavam recompensas justas em troca do seu esforço. Por fim, e mais atual, o que temos hoje são contratos com foco em lifestyle, ou seja, necessidades relacionadas ao bem-estar físico, mental e emocional. A demanda agora é que os contratantes forneçam condições de trabalho saudáveis em troca de um nível de performance que seja realmente sustentável.
Pensando agora em relação a esse último tipo de contrato, do tipo lifestyle, o estudo desenvolvido pela Mercer foi capaz de determinar quais são as áreas em que os empregadores deveriam focar para adaptar-se às mudanças de necessidades dos empregados para serem capazes de vencer a guerra em busca dos melhores talentos e, o mais importante, que é manter esses colaboradores dentro do seu negócio.
Atrair, obter e reter!
A retenção é hoje um dos maiores problemas que os gestores podem enfrentar entre diversas tarefas associadas à gestão. Isso porque, efeitos como A Grande Renúncia foram extremamente significativos para suas atividades, de forma não positiva. Isso fica claro quando o estudo esboça dados como este a seguir:
“1 a cada 3 empregados estão considerando deixar seus empregos contra 1 a cada 4 no ano anterior”

Em termos percentuais, houve um acréscimo relevante no número de pessoas que estão insatisfeitas com sua posição atual, saindo de 25% e subindo até 33%. Porém o comprometimento destes colaboradores dentro das empresas apresentou também mais um dado negativo, foi identificado que o compromisso deles já não era o mesmo quando comparado ao ano anterior, mas sim inferior. Entre as 3 principais queixas dos funcionários, entram: pagamentos insuficientes, burnout devido à alta carga de trabalho e benefícios de saúde pouco atrativos.
Outro dado interessante mostra que quando filtramos ainda mais as características dos entrevistados, por exemplo, em termos de salário, é possível identificar divergências de opiniões. Aqueles considerados “baixa renda”, que recebem até 60 mil dólares ao ano, mostram maior nível de descontentamento em comparação aos que recebem salários superiores a este mesmo valor. Foi questionado aos entrevistados quais deles, naquele momento, não estavam realmente considerando deixar seu trabalho.
Baixa renda: 37% (2021) e 45% (2022)
Alta renda: 23% (2021) e 32% (2022)
Retenção é sem dúvidas um grande desafio para o mercado de trabalho atual, e um ponto que vale atenção é que, de acordo com o estudo, independentemente da demografia analisada, o salário é sempre uma das principais razões na hora de decidir ou não manter seu posto de trabalho.
Mas e agora?
O ano de 2022 mostrou uma pressão financeira muito mais significativa em comparação ao ano de 2021. O alto nível de inflação dos Estados Unidos chegou ao pico de 8,2% em um período de 12 meses e foi algo que criou pânico em toda população do país, que antes costumava experimentar cerca de 2% ao ano. Além disso, e por consequência disso também, os mercados passaram a ficar extremamente voláteis, inseguros e o governo foi forçado a começar a elevar as taxas de juros para tentar minimizar esses efeitos inflacionários. Ao fazer isso, ele criou outro problema, o custo do dinheiro agora se tornou mais escasso e, com as taxas altas, as despesas e financiamentos começaram a crescer em termos de endividamento e muitos empregados estão com sérios problemas financeiros.
Para controlar isso, muitos americanos precisaram iniciar um plano urgente de contenção de gastos, principalmente aqueles considerados de baixa renda. Em alguns casos, precisaram começar a consumir sua reserva de emergência para manter seu padrão de vida inalterado. Essas duas estão entre o top 3 mudanças que foram tomadas devido ao ambiente de alta inflação.
O trabalho remoto pode cooperar para a história do trabalho
Outro fator que tem incomodado muitos profissionais é que eles não estão realmente recebendo o que eles querem. A maior parte do trabalho hoje é feito de forma completamente presencial (53%), uma pequena parte híbrida (31%) e menos ainda são aqueles que trabalham 100% remotamente (16%). Enquanto na verdade, o que eles realmente desejam seria 11% presencial, 47% híbrido e 42% remoto. Essas duas diferentes combinações mudariam o patamar de 3,5 dias na empresa, no primeiro caso, para 1,5 dias, no segundo, por semana.
Portanto, o que os empregadores precisam realmente é tentar abraçar esse contrato baseado no estilo de vida. Não que eles devam agir sempre de acordo com tudo que seus colaboradores desejam, mas que o desejo de seus empregados em comparação ao que a sua empresa oferece esteja em níveis muito mais próximos. A questão é sobre encontrar o ponto ideal de afinidade entre as duas partes e promover um ambiente melhor para todos os envolvidos!
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Daniela Zschaber
Redatora, poliglota, letrista, graduanda em Ciência de Dados e apaixonada por tecnologia. Nas horas vagas sou profissional de Carinho em Gato e aprendiz da língua russa!